quinta-feira, 18 de junho de 2015

O Porquê de uma Honda MB




Decorria o ano de 1983 e eu circulava pelo Porto com a minha Casal 50.6, andei nela uns anitos e ao contrário de todas as Casal 50.6 a minha mantinha-se original, exceção feita ao escape do Aristeu.

Tinha uns amigos que também andavam de mota, e um deles era particularmente conhecido no meio das duas rodas daquela altura, pois acreditava sempre que as suas motas andavam mais do que qualquer outra. O Zaga, cujo verdadeiro nome era Manuel Gonzaga Mengo Pinto, nascido em Nova Lisboa, agora Huambo, era verdadeiro perito em mandar alterar e dizer que tudo estava original. Pelas suas mãos passou uma Honda CB 50 J azulinha, em que dei umas boas voltas, e que mais tarde foi parar às mãos do Rui Valentim. O Zaga acreditava piamente que aquilo era uma bomba. O seu pai tinha sido importador da Datsun no Huambo, e para ele a Honda era tudo. Conversa puxa conversa, esta anda e esta anda mais, e uma bela noite fizemos um picanço, ele na Honda e eu na Casal pela Rua da Alegria abaixo que acabou com a CB J enfiada na frente de um carro que subia a Rua Firmeza, o Zaga aos trambolhões e eu a berrar ó Zaga, ó Zaga!

Ele também teve um DT 50, sem junta de colaça e com a janela do escape maior do que entrada do Túnel do Infante, que nos tempos áureos dos picanços da Via rápida dava para passar a brincar pelas DT de origem, e para manter o ego do Zaga bem alto. Depois veio a MB 5 vermelha com escape do Barros, a Kawasaki AR 125 e a Yamaha TZR 250. Esta última esteve abandonada uns bons tempos na porta da minha casa no Porto, e o Zaga queria que eu a comprasse por 2 dólares. Para o Zaga 2 dólares eram duzentos contos, mas a mota estava que metia dó, coberta com uns plásticos que lhe arranjei e com arames a segurar os escapes...........agora ficava com ela. Fiquei foi sempre de olho na MB. Aquela MB na Via Rápida era um ferrinho, e mexida como estava também dava para fazer umas boas brincadeiras. Lembro-me de uma vez, ter pegado nela numa noite muito fria e em plena Rua de Costa Cabral no Porto ter passado no Barcarola bem acima dos 120 Kmh. Naquela altura nós acreditávamos que Deus estava sempre connosco, e portanto era sempre a abrir, se não guiássemos nós, guiava Deus. Aquilo para mim era uma mota de sonho, embora eu antes tivesse tido uma Yamaha MR 50, e sonhado também com a Suzuki RG 50 anos antes, a MB era outra coisa, e por isso agora tenho uma bem guardada, que quando raramente sai à rua me leva novamente a ter 17 anos, pena é que já não possa deixar o Zaga dar uma volta, ou mesmo fazer um picanço com ele, o homem já não está neste mundo, fruto de uma vida muito pouco regrada que nada tinha a ver com o uso das motas,..... mas ficará sempre na minha memória, ele, a MB-5 vermelha e todas as outras motas.

Não se pode dizer que tenha feito um restauro à Honda MB. Simplesmente a desmontei, excepção feita ao motor, a pintei, coloquei um filtro de ar, limpei o carburador (para no final meter um novo) carreguei bainhas, meti um novo pistão no bombito do travão da frente, e a levei a um mecânico para verificar a instalação elétrica. No fim de tudo isto fiquei com uma Honda MB quase nova. Aqui deixo algumas imagens desse trabalho.