quarta-feira, 31 de outubro de 2018

De SYM GTS 125 até ao Luxemburgo

Uma das coisas que mais gosto de fazer, para além de arranjar motos, é de viajar nelas. Tenho uma Honda CB Seven Fifty, com 156 000 Km que já percorreu quase toda a Espanha, inclusivamente cheguei a ir nela para Ibiza e Palma de Maiorca, e que está parada desde 2010 altura em que comprei a Shenke, e continua à espera de ser restaurada pois aquele motor verte óleo pela tampa das válvulas, e tem uma pequena fuga de óleo na junta da colaça, que me sujava os sapatos, e daí eu ter optado por comprar uma scooter. Brevemente irei tratar desta máquina, pois infelizmente continuo a pagar o imposto de circulação, mesmo não andando nela. 
Detesto andar de avião, e embora já tenha ido nesse meio de transporte para muitos sítios, inclusivamente para o Luxemburgo, desta vez fui de mota, isto porque a SYM estava nova com cerca de 18 000 e poucos Kms e o dono queria testar a coisa……... sempre seria uma viagem diferente. De Portugal ao Luxemburgo são cerca de 2000 Km, coisa pouca para quem vai de carro, ou numa boa moto, e conta com a colaboração das auto estradas Francesas e Espanholas, fazendo o percurso num dia. Coisa mais difícil para quem vai de Scooter 125cm3, e com a casa ás costas! Como tinha tempo e vontade de descobrir, o interior da França fui para lá por um caminho pouco utilizado, alternando entre as auto-estradas e as estradas nacionais, entre umas cervejas, uns almoços, um café, uma cigarrada, e uma conversa com este ou aquele motociclista que encontrava no caminho. Sem mapas, sem GPS, sem saber onde ficar, e onde parar,...... à moda antiga, lá fui! Demorei quase 5 dias a chegar lá, dormindo em hotéis e fazendo campismo, sem horas e sem relógio, só preocupado com o prazer de andar na mota.
A primeira etapa de 540Km entre o Porto e Burgos, saindo por Chaves, foi uma coisa simples e calma. Circulando entre os 80Kmh e os 90Kmh, parando em áreas de serviço para abastecer energias e descansar, mas sempre, sempre com vontade de andar.
À saída de Burgos encontrei talvez o rei destas coisas de viagens de scooter, o Michael que veio de Dusseldorf de scooter chinesa de 50 cm3, é obra. Dizia ele "No Kaput". 
No segundo dia fiz mais 447 Km entre Burgos e Bordéus. Em Espanha feitos pela nacional e em França pela autoestrada, uma excelente auto-estrada com enormes retas, mas que infelizmente tiveram de ser feitas mais uma vez na casa dos 80/90 Km/h, e 100 Km/h de vez em quando, parando em muitas áreas de descanso para poupar a máquina. 
A terceira etapa foi de Bordéus a Guéret passando por Angoulème. Em Guéret fiquei num excelente parque de campismo, junto de um lago, que será sem dúvida um dia um sitio para visitar com mais calma numa das minhas viagens. Ao jantar em Guéret fui comer a um restaurante chinês (Royal Wok), que serve comida e bebida à descrição por vinte e tal €, e que fica cheio de gente por essa altura. Aquilo é uma coisa a procurar para quem viaja por França, pois existem muitos. Não comendo ao meio dia, enche-se o "bamdulho" à noite.
No dia seguinte pelo meio da manhã comecei mais uma etapa de Guérret até Metz, ou perto mais coisa menos coisa. Foram mais 600 Km, os últimos 100 feitos já de noite. Cansado e já sem grande pedal, fiquei numa área de hotéis, hotéis esses que a partir de uma dada hora funcionam sem ninguém na receção. Aquilo é chegar lá, meter o cartão na ranhura preencher o enunciado eletrónico apresentado, e voilá …..sai a fatura de pagamento, a porta abre, caminhamos até ao quarto, e toca a dormir. No dia seguinte já tem funcionários, passamos por eles, dizemos bons dias, eles retribuem, e nós seguimos viagem, ou então saímos mesmo pela porta do cavalo, e nem bom dia. Coisas dos tempos modernos!
Ainda de manhã entrei no Luxemburgo. trânsito, muito trânsito. Lamborghinis, a passarem por mim a berrar, camiões, motas, carros, filas de carros, gente e mais gente, assim é a vida por aquelas bandas, isto na entrada e no centro da cidade, pois se nos deslocarmos para os arredores a coisa já é bastante mais calma, e as paisagens mudam completamente, onde os edifícios de grande dimensão dão lugar a pequenas casas, e o cinzento das praças dá lugar ao verde dos campos muito bem tratados e organizados.
O Luxemburgo é considerado o país mais rico do mundo, e isso sente-se quando nos deslocamos por aquelas bandas. É um pais pequeno, muito organizado, rigoroso, e acolhedor tal como Portugal. Só é pena que Portugal não seja tão rigoroso e organizado, pois se fosse certamente seria também um país rico. A sensação com que fico quando viajo, é que efetivamente um pais se torna rico, quando cria riqueza e sabe com rigor aplicar a sua riqueza, e isso acontece devido à educação do seu povo.
A viagem de regresso foi feita quase pelo mesmo caminho, só que desta vez não vim por Dijon, optei por fazer o caminho mais pelo interior, Chaumont, Auxerre e Bourges (onde dormi), fazendo no dia seguinte Chtâteauroux, e Limoges, retomando aí o caminho da vinda por Bourdéus onde fiquei mais uma vez. Daí fui até Vitória, e de Vitória fiz tudo de uma assentada até Portugal. 

Assim, direi que a SYM se portou lindamente, embora para o final do percurso já em Espanha em algumas subidas mais inclinadas e com vento de frente parecia que já lhe custava a andar, mas nunca parou, havendo a registar apenas o facto de a lâmpada dos médios se ter fundido.  Ida e volta são 4000Km, mais umas voltas,  fiz mais 1000 Km. No total foram 5000 Km. Grande máquina!
Gostaria de referir um facto interessante que apreciei em França. Percorri grandes retas de floresta de pinheiros e não vi um único pinheiro ardido, ou uma floresta ao abandono!
Para terminar aproveito para enviar um abraço ao Adelino Lima.