Decorria o ano de 1983 e eu circulava
pelo Porto com a minha Casal 50.6, andei nela uns anitos e ao contrário de
todas as Casal 50.6 a minha mantinha-se original, exceção feita ao escape do
Aristeu.
Tinha uns amigos que também andavam de
mota, e um deles era particularmente conhecido no meio das duas rodas daquela
altura, pois acreditava sempre que as suas motas andavam mais do que qualquer
outra. O Zaga, cujo verdadeiro nome era Manuel Gonzaga Mengo Pinto, nascido em
Nova Lisboa, agora Huambo, era verdadeiro perito em mandar alterar e dizer que
tudo estava original. Pelas suas mãos passou uma Honda CB 50 J azulinha, em que
dei umas boas voltas, e que mais tarde foi parar às mãos do Rui Valentim. O
Zaga acreditava piamente que aquilo era uma bomba. O seu pai tinha sido
importador da Datsun no Huambo, e para ele a Honda era tudo. Conversa puxa
conversa, esta anda e esta anda mais, e uma bela noite fizemos um picanço, ele
na Honda e eu na Casal pela Rua da Alegria abaixo que acabou com a CB J enfiada
na frente de um carro que subia a Rua Firmeza, o Zaga aos trambolhões e eu a
berrar ó Zaga, ó Zaga!
Ele também teve um DT 50, sem junta de
colaça e com a janela do escape maior do que entrada do Túnel do Infante, que
nos tempos áureos dos picanços da Via rápida dava para passar a brincar pelas
DT de origem, e para manter o ego do Zaga bem alto. Depois veio a MB 5 vermelha
com escape do Barros, a Kawasaki AR 125 e a Yamaha TZR 250. Esta última esteve
abandonada uns bons tempos na porta da minha casa no Porto, e o Zaga queria que
eu a comprasse por 2 dólares. Para o Zaga 2 dólares eram duzentos contos, mas a
mota estava que metia dó, coberta com uns plásticos que lhe arranjei e com
arames a segurar os escapes...........agora ficava com ela. Fiquei foi sempre
de olho na MB. Aquela MB na Via Rápida era um ferrinho, e mexida como estava
também dava para fazer umas boas brincadeiras. Lembro-me de uma vez, ter pegado
nela numa noite muito fria e em plena Rua de Costa Cabral no Porto ter passado
no Barcarola bem acima dos 120 Kmh. Naquela altura nós acreditávamos que Deus estava
sempre connosco, e portanto era sempre a abrir, se não guiássemos nós, guiava Deus. Aquilo para mim era
uma mota de sonho, embora eu antes tivesse tido uma Yamaha MR 50, e sonhado
também com a Suzuki RG 50 anos antes, a MB era outra coisa, e por isso agora
tenho uma bem guardada, que quando raramente sai à rua me leva novamente a ter
17 anos, pena é que já não possa deixar o Zaga dar uma volta, ou mesmo fazer um
picanço com ele, o homem já não está neste mundo, fruto de uma vida muito pouco
regrada que nada tinha a ver com o uso das motas,..... mas ficará sempre na
minha memória, ele, a MB-5 vermelha e todas as outras motas.
Não se pode dizer que tenha feito um
restauro à Honda MB. Simplesmente a desmontei, excepção feita ao motor, a pintei,
coloquei um filtro de ar, limpei o carburador (para no final meter um novo) carreguei bainhas, meti um novo pistão no bombito do
travão da frente, e a levei a um mecânico para verificar a instalação elétrica.
No fim de tudo isto fiquei com uma Honda MB quase nova. Aqui deixo algumas
imagens desse trabalho.